segunda-feira, 6 de julho de 2009

Conversa de psicólogo

Quando você sai da faculdade, que alívio! Parece que todos os compêndios, todos os livros, todas as teorias e procedimentos foram, enfim, encasquetados em sua cabeça e agora você é alguém apto para assumir o posto de profissional.

Quando você sai da faculdade, você parece mais maduro, parece mesmo assumir um ar grave, mais pausado, como se houvesse adquirido uma certa rigidez, ou uma certa tranqüilidade, confundida, muitas vezes, com serenidade.

Enfim, após seis longos anos esquentando as cadeiras semi-quebradas da universidade federal de alagoas, você parece ter saído de uma guerra, vai andando , rastejando, esfarrapado e talvez até com marcas de tiro pelas calças. Você venceu, atravessou greves, chuvas e ruas enlameadas. Você se formou, tome o canudo!

O que se espera de um psicólogo recém-formado? Eu agora pergunto a você, porque eu também não sei responder. Eu só posso conjecturar.

Será que esperam que nos sujeitemos a salários humilhantes porque carregamos conosco o triste prenome de Recém formado? O que esperam de um psicólogo recém formado.

Eu faço essa diferenciação, obviamente pelo motivo que sou psicóloga, e não teria sentido eu falar aqui de um biólogo recém formado, posto que não sei o que as algas têm de especial que possam fazer de um recém formado biólogo uma criatura diferente de um biólogo com 10, 20 anos de estrada.

Não entendo de Biologia, então fico com a Psicologia, não por entender dela, mas, por presumir que meu conhecimento acerca do comportamento humano infinitamente maior sobre qualquer coisa que eu possa saber sobre plânctons ou medusas, ou fungos, ou o que os valha.

Somente o psicólogo recém-formado se depara com uma questão cruel, uma questão que nos é lembrada pela sociedade a todo minuto: Você estudou, presume-se que os longos anos, a entrada no mercado dos estágios, a passagem pelo trabalho de conclusão de curso faça de você uma pessoa mais madura, isso mesmo, de novo, mais serena, e agora, apta a cuidar das mentes alheias.

E por que não antes? Porque antes você nada sabia. Essa transição de estagiário/estudante para profissional da psicologia é desestruturante, muitas vezes alucinante, como em outras profissionais também é, mas, no caso da Psicologia, o negócio é pior: Como asssim, você é Psicólogo e não sabe da sua vida? Como não consegue ter maturidade suficiente para lidar com o fato de que, agora, você é um desempregado, mas, com um canudo na mão?

Como vencer essa situação parece um mistério. Alguns resolvem (tentam) isso em suas terapias, que muitas vezes começaram dizendo que era uma “exigência curricular” , mas que também não é fonte de alívio completo, uma vez que, não se esqueça, você é desempregado, mal tem dinheiro pra pagar o CRP (Conselho Regional de Psicologia) e depende dos pais, então, como pagaria as sessões no terapeuta, no analista, pra falar do sofrimento psíquico que é ser desempregado?

Não, certos luxos, por favor, têm que ser cortados. Você é um profissional, levante-se. Ânimo! É o que digo a mim e a muitos que estão na mesmíssima situação. Há de existir alguma alma caridosa que confie em seu potencial e que o ajude a ser alguém na vida, talvez daí, de um emprego, de um salário em dia advenha serenidade e tranqüilidade (vamos ser objetivos, essa é a vida real).

Apesar da descrição da vida difícil do psicólogo cheirando a leite, cabe aqui acrescer um fato bom, uma luz no fim do túnel, uma vantagem, enfim, de ser recém formado: o orgulho e a soberba diante dos que ainda não se formaram. Veja bem, você pode não ter emprego, nem dinheiro pra pagar a anuidade do CRP e nem pra continuar a terapia, você pode não ter dinheiro também pra participar dos eventos sempre tão estimulantes e dos coffee breaks tão pobres lá servidos.

Mas veja, ainda há um motivo para sorrir: Passar diante dos que não são formados, dos que ainda esquentam as regiões traseiras nas cadeiras carcomidas da Universidade Federal de Alagoas, ou de onde quer que existam cadeiras.

Aí você pode, esquecer as misérias da sua vida, e desfilar um sorrisinho no rosto de suposto-saber. Já passei pelas fases turbulentas, eu já li Freud, Lacan, Winnicot e Klein e, obviamente, já apresentei meu TCC, isso me faz melhor que você! Puro engodo, pobre de nós é uma defesa tão triste, mas que dá um consolo, isso dá.

Não somos nós que entendemos de fantasia? Que tal esta? Se não há dinheiro, só nos resta é o imaginário, nele podemos vestir as roupas mais bonitas. E haja tarja preta...mas que conversa de psicólogo?!

Um comentário:

  1. Pois é, que conversa é essa heim? certamente me vi enroscada nas tuas palavras. Esse percurso, muitas vezes abominável, da saída da Universidade para o mundo "lá fora" me dá a certeza de que as angústias estão presentes. Uma angústia do que fazer, para onde ir, em que me detenho, que foco utilizar, o q fazer? É duro perceber e sentir que esse mundo "aqui fora" nos dá tapas e mais tapas na cara. E saimos maduros sim da Universidade, afinal foram anos explorando conhecimento e até bitolados nos deveres que nem sempre eram bem vindos, porém necessários. Agora é a jornada do "cheiro de leite" para o "suor da puberdade" o processo segue em outra proporção e nem por isso não é merecido e valioso. Dá desespero, estresse, falta de vontade, tudo o mais que nós Psicólogos sabemos e somos obrigados a lidar bem com isso né? é o que afirmam os conhecidos "achadores" de soluções. Não vale a pena citar aqui cada pensamento negativo e desesperador, pois estamos nessa busca de sentir esse suor percorrendo pelo corpo dando a certeza de que não estamos sozinhos que o mundo está aí cheio de propósitos. Podemos levantar a cabeça e dizer: Animo! não é? Podemos sim! Somos capazes de evoluir a cada instante e a cada reação. Sabemos agir, só precisamos acreditar que podemos ser resilientes ou será espontaneos? Temos a criação dentro de nós que permanece escondida por termos colado nas costas a conserva cultural que nos remete a repetiçao dos atos e a paralisação da esponatneidade. Crescemos perdendo isso, a luta é retomar e confiar que jogando o lixo mental fora e sabendo focar (msm sem saber para onde) podemos percorrer o caminho felizes e os frutos virão...calma e paciencia eles virão, só não podemos ficar parados...Afinal jacaré parado vira bolsa =p (para descontrair). Mas é essa a questão, há como sair dessa angustia e essa falta de oportunidade. Podemos criar as oportunidades e sugar aquele ideal que nos levará até a felicidade de seremos Psicologos ou melhor "O" Psicólogo. Que saibamos agir e não apenas reagir...AGIR e deixar de pensar no futuro...e se eu nao conseguir la adiante? nao interessa viva o presente, o futuro é lixo perto do que se pode fazer AGORA, e ele certamente virá desse agora que você constrói e não das lamentações e dos receios de não conseguir sem ao menos AGIR! Vamos focar e ir atrás felizes até conseguir o objetivo. Se nao conseguirmos, com certeza virão outras amostras só nao podemos parar de andar e seguir saltitantes com imenso prazer naquilo que escolhemos.

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